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10 de nov. de 2020

O mundo está ficando insuportavelmente miserável


O aumento da miséria, trazendo a fome como companheira inseparável, nunca esteve tão presente como agora, em decorrência da grave crise econômica e social causada pela pandemia do Coronavírus. Os números da desnutrição voltaram a crescer nos últimos cinco anos, interrompendo um ciclo virtuoso de inclusão que vinha protegendo os mais vulneráveis, notadamente em razão de programas sociais de amparo, em especial ao Bolsa Família. Como já vinha se registrando, essa desnutrição acompanhou o crescimento populacional, ao longo das décadas. E a falta de comida para os mais pobres piorou à medida que o novo coronavírus se instalou, alcançando praticamente todos os países, mas com danos específicos nas nações mais pobres, a exemplo do Brasil.

E nessa quadra de intensa dramaticidade, constata-se que a Covid-19 não é igual para todos. Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para não perder emprego ou para comprar o alimento da sua família no dia seguinte, os bilionários não têm com o que se preocupar. Eles estão em outro mundo, o dos privilégios e das fortunas que seguem crescendo em meio à, talvez, maior crise econômica, social e de saúde do planeta no último século”, conforme depõe a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.

Crédito: William West/AFP

E mais grave ainda: o crescimento da fortuna dos mais ricos do planeta, que se dá com bastante força em meio à pandemia que mata e empobrece milhares, não decorre em razão das atividades de produção desses bilionários, não se dá porque estão oferendo trabalho aos que dele precisam, mas exatamente pela prática da especulação financeira.


Um estudo da Oxfam, constante do relatório “Tempo de Cuidar – o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade”, revela que os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que os 4,6 bilhões de pessoas – ou cerca de 60% da população mundial. E cita que a elite mais rica do mundo está cumulando grandes fortunas às custas principalmente de mulheres e meninas pobres que passam grande parte de suas vidas em trabalhos domésticos e de cuidados.


A desigualdade global, e também no Brasil, está em níveis recordes e o número de bilionários dobrou na ultima década. Só neste tempo de pandemia, de abril para cá, 08 brasileiros entraram naquela imoral lista dos 2.153 mais ricos da terra, e agora são 45.

Conforme mostra o relatório da organização, desde o início das medidas de distanciamento social para combater a disseminação da covid-19, enquanto a fortuna de uns poucos se avoluma de maneira imoral, a estimativa é que 40 milhões de pessoas devem perder seus empregos e 52 milhões vão entrar na faixa de pobreza na América Latina e Caribe em 2020.

Não é sem razão que lembro o imortal José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, um dos pensadores mais notáveis e sensíveis desses últimos dois séculos, que ao ler sua parábola dos sinos, no discurso de encerramento do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2002,nos brindou com esse sonho: “...da possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objetivamente tem sido.”


José Saramago - Crédito: Observer/Arquivo

E voltando à parábula, “esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e ação social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protetora da liberdade e do direito, não de nenhuma de suas negações.

E finalizava:” tenho dito que para essa justiça dispomos de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há 50 anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aqueles trinta direitos clássicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia.”


Morto em 2010, o grande escritor e pensador, crítico profundamente lúcido da globalização, Saramago não viveu para testemunhar que na perspectiva das grandes maiorias da humanidade, a atual ordem é uma ordem na desordem, produzida e mantida por aquelas forças e países que se beneficiam dela, aumentando seu poder e seus ganhos. Essa desordem se deriva do fato de que a globalização econômica não deu origem a uma globalização política. Não há nenhuma instância ou força que controle a voracidade da globalização econômica, conforme nos asseguram Joseph Stiglitz e Paul Krugman, dois prêmios Nobel em economia. Recentemente eles se justaram a outro grande pensador, Amarthya Sen, o homem que criou o IDH para medir os níveis de desenvolvimento humano, sobretudo para se saber a realidade dos pobres do mundo, deixando os neoliberais inquietos e contrariados, ao dizerem que o mundo, antes da Revolução Industrial, era miserável, mas homogêneo, isto é, todos eram miseráveis. A Revolução causou um desnivelamento na balança mundial. Países se tornaram prósperos, enquanto outros ultramiseráveis. E que a ganância e a liberalização do mercado de capitais, o chamado “Hot Money”, estão matando o mundo, tornando-o insuportavelmete desigual e injusto. Um lugar cada vez mais difícil de se viver.

Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Amartya Sen

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