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29 de dez. de 2020

A pandemia do coronavírus nos indica o caminho da fraternidade


Este ano de 2020, que está chegando ao fim, mas nos passa a sensação de que nunca vai acabar, está deixando marcas definitivas, feridas abertas, em cada um de nós. Do medo, insegurança, desepero, tem nos levado muitas vezes à terrivel sensação da desesperança, pelo simples fato de que não encontramos respostas para os imensos desafios que essa pandemia do Coronavírus tem nos imposto, e não sabermos quando disso tudo sairemos. E se sairemos inteiros, livres de sequelas, sem a perda de mais pessoas queridas além das muitas que já se foram.

A principal insegurança, que descamba para o medo, provém do fato de que vivemos uma estranha e progressiva quadra de desinformação, de meias verdades e de mentiras. Todo esse ambiente de grave enfermidade que atinge pessoas de todas as idades, sexos, cor da pele e condição econômica, de maneira horizontalizada, sem escolher a beleza dos olhos ou o volume da conta bancária, está contamidado por uma absurda falta de clareza sobre o que diz respeito a cada um de nós: a cura para a doença, a preservação do emprego, as aulas dos filhos e netos, o futuro dos nossos negócios, das nossas atividades profissionais, e o próprio destino das nossas comunidades, das nossas cidades, estados e países.



Mas este ano que nunca imaginamos, sonhamos ou desejamos, não é de todo perdido, descartável, para se jogar na lata do lixo. Ele carrega na esteira dos seus estragos um vigoroso poder mágico de nos levar a uma séria e profunda reflexão - algo que certamente não estava na nossa agenda egoísta de ver a vida apenas olhando para nossos interesses específicos, para nosso próprio umbigo-, esquecendo que existia um mundo a nossa volta, um mundo cercado por pessoas e animais, por uma natureza da qual somos filhos e da qual dependemos para continuar sobrevivendo. Nunca mais seremos os mesmos depois de tudo passar, demore o quanto durar, custe-nos o que nos custar.

No plano geral, que implica na macroeconomia mundial, está ficando cada dia mais claro, mais plausível, que o Capitalismo, que ganhou robustez para firmar seu domínio do mundo, sobretudo, ao fim da Segunda Guerra Mundial, está doente e envelhecido, é um sistema que não se sustenta, pois além dos multimilionários que criou, nasceu exatamente desse sistema insensível, da sua gula, da sua obstinação desenfreada pelo aumento da riqueza entre poucos, a mais grave epidemia de miséria e fome por que atravessa grande quantidade de povos espalhados por várias partes do pleneta.


O fosso separando, de forma desumana, o seleto grupo dos muito ricos daqueles milhares e milhares de humanos aos quais sobraram apenas o desemprego, a fome, as doenças das fome, a incapacidade de sair do chão, a morte prematura de mihões, especialmente de mulheres e crianças, constitui de fato a maior pandemia de que se imaginaria ter notícia nesses anos iniciais do século 21.


E poucos no mundo, notadamente os detentores das diversas formas de poder, pararam para pensar nessa outra pandemia, a da pobreza, da miséria, que vem matando e segregando pessoas não apenas em países pobres e mergulhados em conflitos internos intermináveis pela África e outras regiões do mundo, mas em nações em desenvolvimento, com destaque para a América do Sul, na qual se inclui o Brasil, onde o contigente de pessoas atingidas pela falta de trabalho, pela desnutrição, descuidos na saúde pública e agressões mortais ao meio ambiente, só tem crescido de uns tempos para cá.

A pandemia do Coronavírus tem a estranha virtude de nos fazer dirigir o olhar para outras realidades, passando a dar atenção a muitos fatos que nos costumamos a ignorar. Até mesmo porque sólidos segmentos da chamada grande mídia não ajudam a esclarecer essas diversas e alarmantes realidades, insistem em ignorar questões que não digam respeito às diretrizes políticas de seu comprometimento e aos controles econômicos demandados pelo grande capital.


O Corona-19, assim, vem possibilitiando esclarecer algumas coisas. Uma delas, por exemplo, cita a Folha de São Paulo, é que a pandemia está deixando uma espécie de efeito cicatriz e criando dois brasis com retomada desigual das atividades econômicas. Ou seja, a pandemia só está aprofundando uma crise que já era gravíssima, com aumento acelerado, amplo e profundo das desigualdades, e o ingresso crescente de milhares e milhares de pessoas na linha da pobreza e da miséria, muitas delas retornando a uma condição de penúria em que já estiveram em passado recente.

O que a notícia nos traz claramente como novidade é que as pessoas com maior incapacidade social e econômica estão suscetíveis, sempre e mais, a caírem nas garras do vírus, e que essas pessoas terão muito menor capacidade de cura e, mais ainda, que o retorno às atividades econômicas muito raramente passará por elas, deixando-as, deste modo, à margem em que se encontram.


Contudo, muito além dos aspectos econômicos, essa pandemia nos obriga a firmar uma reflexão pessoal extremamente necessária ao nosso caminhar futuro, levando-nos a compreender que não podemos viver isoladamente, pensando apenas no nosso interesse pessoal, olhando unicamente para nosso nariz arrebitado. É urgente incorporar o convencimento de que para se viver dignamente, cada ser humano necessita de respeito e justiça, condições essenciais para fazer diminuir as desigualdadas em que se encontrem. Isso vale para cada um de nós, pobres mortais, do mesmo modo que deveria ocupar a mente de uma elite privilegiada que ocupa o poder das mais diversificadas formas.


Essas condições de que se projete no outro as possibilidades de acesso a justiça e respeito, entretanto, não são dádivas caídas do céu como milagre. Elas pressupõe uma pré-condição inseparável, sem a qual nem a justiça e nem o respeito florescem. Falo da fraternidade, um sentimento que se se tornou visível e aplicacável pela Revolução Francesa e seus louváveis princípios, e que é capaz de sustentar a indispensável harmonia na convivência humana.

Amarthya Sen, o notável economista indiano que criou a extraordinária forma do IDH (Índice do Desenvolvimento Humano), Prêmio Nobel de Economia de 1998, proclamou que nunca haverá redução e eliminação das desigualdades sem que se promovam os meios necessários à elevação das capacidades humanas. Sem dar ao cidadão as condições básicas essenciais para crescer com educação, amparo à saúde, acesso à alimentação e ao trabalho, o homem não tem capacidade de alçar voo e sair do chão.

A passagem dessa pandemia mutiladora está nos indicando o caminho de cura para todas as cicatrizes que ela deixe. Esse caminho passa necessariamente pela fraternidade. Temos que dar a mão aos outros, se quisermos ter o anseio de paz e felicidade.

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