Por Laura Couto
— Belo Horizonte
27/04/2024 06h00 Atualizado há uma hora
DNA — Foto: Freepik
"Qual é a sua origem?" O desejo de descobrir a resposta para essa pergunta tem feito crescer a procura por testes de ancestralidade no Brasil. Nesse tipo de exame, são apontadas as raízes étnicas e ancestrais de uma pessoa,, e foi justamente a curiosidade pelo passado que levou Rafael Aquino, mestre em ciências sociais, a procurar a testagem genética.
"De uma forma muito natural, eu sempre tive interesse em pesquisar a região do Oeste da África, pela cultura, devido à música que eu gosto muito. Aí, quando fiz o teste, deu que 82% do meu DNA é exatamente dessa região. Fiquei muito surpreso, porque eu gostava mais pela questão de afinidade e de sentimento, não tinha certeza nenhuma dessa ancestralidade", disse.
A testagem consiste na extração e leitura da sequência de DNA em laboratório. Posteriormente, os dados são inseridos numa plataforma que, por meio de algoritmos, consegue pontuar regiões onde a sequência genética já foi detectada, indicando parentesco com aquele povo.
Em um dos maiores laboratórios de genética da América Latina, a busca pelo teste de ancestralidade aumentou 1.100% em apenas três anos. Recentemente, o time de futebol Palmeiras realizou o mapeamento de alguns jogadores para resgatar a origem africana dos atletas.
Doutor em genética da USP e cofundador do laboratório Genera,, Ricardo di Lazzaro explica que o método permite uma árvore genealógica com pelo menos cinco gerações passadas:
“O teste de ancestralidade vai avaliar, especificamente, a sequência do DNA de um indivíduo para comparar com milhares de pessoas pelo mundo e dizer, por similaridade, o provável local de onde vieram os antepassados dessas pessoas. Então, a gente consegue traçar por milhares de anos. São pelo menos cinco gerações para trás, e é algo que só uma leitura genética consegue trazer”, explicou.
Coleta de DNA para mapeamento genético pode ser feita em casa
A coleta, que antes era restrita ao exame de sangue em laboratórios, foi simplificada com a popularização. Agora, é possível colher o DNA em casa pela saliva, por meio de um swab bucal, semelhante ao que é usado no autoteste da Covid. O envio da amostra é feito diretamente pelos Correios. A faixa de preços pode variar de R$ 100 a até R$ 1 mil, para testes mais complexos.
Apesar dessa alta demanda, especialistas alertam sobre o grau de confiabilidade. Pesquisador há 30 anos sobre genética humana, o professor da UFMG Eduardo Tarazona diz que é preciso ter cautela com os resultados, principalmente quando desconsideram miscigenação e fronteiras entre países.
"As pessoas têm que ser mais cautelosas e mais incrédulas, principalmente quando pretendem separar a ancestralidade no nível de país, isso é meio complexo. Se você considera a Europa, é uma região pequena comparada ao Brasil, por exemplo. Eu posso falar quanto de ibérico uma pessoa tem, mas é muito difícil diferenciar, por exemplo, a ancestralidade de alguém de Lisboa para alguém de Estremadura, na Espanha, que fica a duas horas de carro. No caso de brasileiros, tem o fato de que somos miscigenados, e o componente indígena é ainda mais difícil porque existem poucos dados de comparação", analisou.
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