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25 de mai. de 2024

Refugiados da chuva em outros estados, gaúchos não sabem se ou quando vão voltar para o RS



Por Anna Luiza Barreto CBN

CBN


25/05/2024 06h01 Atualizado há 41 minutos


Vista aérea do município de Cruzeiro do Sul, no Rio Grande do Sul, após as enchentes que atingiram a região — Foto: Nelson Almeida/ AFP


Com a tragédia que atinge o Rio Grande do Sul, gaúchos que precisaram deixar suas casas tentam levar uma vida provisória fora do estado. Enquanto esperam a água baixar, os "refugiados climáticos" contam com a hospitalidade de amigos e parentes em diferentes cantos do Brasil.


É o caso da dona Marilei Goldoni e do marido Tadeu, que vivem há quase um mês em São Paulo, na casa da filha. Eles são moradores de Novo Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e foram para a capital paulista comemorar o aniversário da neta. Por causa da enchente histórica, a viagem, que duraria apenas uma semana, ainda não tem data para terminar.



“Saímos de manhã bem cedo, às seis horas, e estava começando a chover. Dia 30 intensificou, dia 1 inundou. Fechou o aeroporto, a rodoviária, tudo. Não tivemos mais possibilidade de voltar. E a nossa casa, primeiro piso completamente inundado. Mais de dois metros de altura dentro de casa”, relembra.


A criadora de conteúdo Naiumi Goldoni, filha do casal, afirma que fica apreensiva de deixar os pais voltarem para casa enquanto há previsão de chuvas fortes.


"E eu, que estou aqui com eles em casa, fico tentando segurar ainda, porque tem previsão de chuva... a gente está com medo, eles vão pegar a estrada. Eles já estão pesquisando como estão as linhas de ônibus, até onde estão indo, se há como chegar na nossa região. Então, eles estão há uns dois ou três dias estudando muito esse terreno e as possibilidades"


Tadeu e Marilei moram há mais de 40 anos em Porto Alegre – e mesmo após a tragédia, não pretendem se mudar. O casal faz planos de voltar para a região quando a chuva der uma trégua, para reconstruir a casa e a vida.


“Nós só estamos ansiosos para voltar. Praticamente nós perdemos tudo porque nós não levantamos nada, simplesmente saímos tranquilos. Como nunca tinha entrado água. 42 anos? Não íamos imaginar que ia entrar agora. A nossa vida está lá. Todo o trabalho da nossa vida está lá."


Mas, há quem nem queira mais voltar para o Sul. Rafaela Cargnin vivia no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, e desde o dia 27 de abril mora em um apartamento provisório no Rio de Janeiro. A analista tinha alugado o local para passar férias na capital fluminense – e por causa das fortes chuvas, decidiu não mais sair.


"Então eu vim uma semana antes, eu vim dia 27 de abril, e até então a gente não tinha a dimensão de quão grande era a tragédia. Acho que o dia que mais eu caí na real foi na segunda-feira, foi dia 6. E foi aí que eu comecei, tipo, tá, não quero mais voltar para Porto Alegre. E foi aí que eu comecei esse planejamento, de começar a procurar um lugar aqui, não sentir mais vontade de voltar para lá."



Apesar de ter nascido e vivido a maior parte da vida no Sul, Rafaela afirma estar com medo de novas inundações, especialmente em setembro, mês mais chuvoso no estado. Ela conta que só voltará a Porto Alegre para se despedir de parentes e tentar recuperar alguns móveis.


"Um mix de sensações, assim, e também é bem estranho a sensação de ser de lá. Eu vivi a minha vida inteira lá. Eu conheço todos os lugares, assim, e vi os vídeos das pessoas postando, da enchente com água alta em lugares que eu frequentava diariamente. Lugares que eu conheço, é diferente da gente ver uma tragédia na TV de um lugar que a gente nunca foi, sabe?"


Rafaela, seu Tadeu e dona Marilei são "refugiados climáticos". O termo ainda não é reconhecido legalmente, mas a professora de Direito Internacional da Universidade de Passo Fundo, Patrícia Noschang, explica que o refúgio climático já se tornou uma questão mundial. Para ela, é possível utilizar o termo diante da tragédia no Rio Grande do Sul.


"O termo passou a ser utilizado, no momento atual no Brasil, devido à essa situação de busca de proteção, amparo e acolhimento a todas as pessoas que foram obrigadas a se deslocar das suas casas em decorrência das inundações. Nem a legislação ambiental brasileira nem a legislação internacional reconhecem o termo refugiado climático."


Dados do relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno de 2023 mostram que mais de 26 milhões de pessoas precisaram sair de suas casas por causa de desastres ambientais, entre 2020 e 2023, em todo o mundo.


Na América Latina, o Brasil é o país que mais teve estes deslocamentos no período: foram 745 mil brasileiros que precisaram sair de suas casa por desastres ambientais, principalmente por causa de inundações e tempestades.

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