Cinco dias e 70 depoimentos; veja como foi a audiência de instrução de Vereadora

Cinco dias e 70 depoimentos; veja como foi a audiência de instrução de Vereadora

leandro santos
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A audiência de instrução da vereadora Tatiana Medeiros no Fórum Eleitoral de Teresina durou cinco dias, sendo a mais longa já realizada pela Justiça Eleitoral do Piauí. A parlamentar foi presa no dia 3 de abril pela Polícia Federal acusada de integrar organização criminosa, corrupção eleitoral, falsidade ideológica eleitoral, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e peculato (rachadinha).

Além de Tatiana, a Justiça Eleitoral tornou réu Alandilson Cardoso Passos (namorado); Stênio Ferreira Santos (padrasto); Maria Odélia de Aguiar Medeiros (mãe); Emanuelly Pinho de Mello (assessora); Bianca dos Santos Teixeira Medeiros (irmã de Tatiana); Lucas de Carvalho Dias Sena (cunhado de Tatiana); Bruna Raquel Lima Souza (funcionária da ONG Vamos Juntos) e Sávio de Carvalho França (funcionário da ONG Vamos Juntos).

Os nove réus foram ouvidos pela junta de juízes, presidida pela juíza Júnia Feitosa. Magistrada, Ministério Público e defesa consideraram a audiência tranquila e esclarecedora, acontecendo sem intercorrências.

Presente todos os dias e com boa imagem 


Tatiana Medeiros compareceu em todos os dias, sempre elegante, com roupas sociais e óculos escuros, mas não falou com a imprensa. 

Mesmo sem dar entrevistas, a vereadora pediu a um representante do Tribunal Regional Eleitoral que repassasse um recado para a categoria. Ela informou que “não vai falar com a imprensa local, que Deus abençoe as nossas vidas e desejou um feliz Natal e ano novo”.

Ministério Público destaca provas robustas 

O MP aponta que Tatiana Medeiros movimentou mais de R$ 2 milhões de forma ilícita, fruto de recursos de organização criminosa. O promotor que acompanha o processo, Mário Normando, diz que as provas comprovam que houve pagamentos via Pix para eleitores no dia da eleição. Há comprovação de que o eleitor foi obrigado a tirar a foto da urna para comprovar que votou na Tatiana. 

“Houveram de fato confissões de muitas das provas que foram juntadas no processo pelo MP. Confessaram que receberam determinada importância para vender seu voto. Foi confirmado, tem prova documental, fichas apreendidas, que tinha nome de eleitor, número de títulos e quantidade de votos”, disse o promotor.

A Polícia Federal quebrou o sigilo financeiro de Alandilson Cardoso entre setembro de 2023 e dezembro de 2024. No inquérito, cerca de 40 pessoas teriam movimentado recursos a favor de Tatiana Medeiros e Alandilson. O relatório da PF tem mais de 500 páginas.

Alandilson como "braço financeiro" do Bonde dos 40

Segundo o Ministério Público, há registros bancários, transações e vínculos que comprovam relação direta de Alandilson com diversos integrantes da organização criminosa.

“Ele seria uma espécie de operador financeiro da facção. A relação do senhor Alandilson com o Bonde dos 40 é de um braço financeiro. Ele seria uma espécie de operador financeiro, e isso está comprovado documentalmente nos autos, com dezenas de pessoas notadamente ligadas à organização criminosa”, pontuou.

Defesa de Tatiana aposta na nulidade de provas e pede revogação de cautelares 

O advogado Edson Araújo, que faz a defesa da vereadora Tatiana Medeiros, afirmou no final da manhã desta segunda-feira que a parlamentar está “tranquila” e “segura” de sua inocência. Edson Araújo disse antecipou que uma das teses levantadas é a nulidade das provas, já que o inquérito da polícia se baseou em um Relatório de Inteligência Financeira (RIF/Coaf) sem ordem judicial na fase de pré-inquérito.

“A tendência é que se reforce isso da nulidade das provas. Já foi julgado no Tribunal de Justiça, mas a defesa insiste nisso, porque obviamente há aprovação do STF. A captação das provas foi feita sem autorização judicial e mais do que isso, sem uma formalização de instrumento investigativo”, disse o advogado.

O advogado Samuel Castelo Branco, também da defesa da vereadora Tatiana Medeiros, confirmou que foi pedido a soltura da parlamentar e a reabertura da ONG Vamos Juntos.

“Eu entendo que a instrução processual finalizou e os motivos que o Ministério Público e o Judiciário, que decretaram a prisão, na época pelo juízo de garantias, que poderia ter influência política, influenciar testemunhas, mas todo mundo já foi ouvido e não tem mais necessidade da prisão”, disse o advogado Samuel Castelo Branco.

O Ministério Público do Piauí (MPPI) se manifestou pelo indeferimento dos dois principais pedidos apresentados pela defesa da vereadora Tatiana Medeiros.

Agora, cabe à junta de juízes analisar os pedidos, o que deve ocorrer até segunda ou terça-feira, segundo o MP.

Defesa de Alandilson nega ligação do réu com facção 

O advogado Wildes Próspero, que representa Alandilson Cardoso, negou qualquer vínculo do cliente com organizações criminosas. Segundo o advogado, Alandilson afirmou estar sendo “colocado como Cristo” (expressão utilizada para dizer que estaria sendo alvo de acusações injustas) porque foi criada uma versão de que seu cliente seria integrante da facção Bonde dos 40 e teria financiado a campanha da vereadora Tatiana Medeiros. Tese que, segundo ele, não se sustenta.

“O Alan não responde a nenhuma ação penal em que é acusado de integrar organização criminosa. O único processo em andamento é esta ação penal eleitoral, sobre suposta captação ilícita de sufrágio e violação de sigilo do voto, crimes sem violência”, destacou.

Próximos Passos

Com o fim da audiência de instrução, MP e defesas terão cinco dias para solicitar diligências complementares. Caso algum pedido seja deferido, as diligências serão realizadas antes da fase final. Nos cinco dias, 70 pessoas foram ouvidas entre testemunhas e réus. A audiência é o momento para apresentar as provas do processo. Após as diligências e as alegações finais do Ministério Público e da defesa, a juíza Júnia Feitosa deverá proferir sentença, provavelmente em 2026. Se for condenada, a vereadora perderá os direitos políticos e será presa em uma penitenciária.

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