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14 de jun. de 2022

Polícia investiga se desaparecimento de jornalista e indigenista está ligado a crime de pesca ilegal

 Foto: Reprodução

Investigadores que atuam no caso do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips afirmaram, sob a condição de anonimato, que as novas evidências e provas do caso -em especial a localização de pertences submersos no rio Itaquaí- reforçam a hipótese de que as atividades ilegais de pesca e a caça na região são o pano de fundo do sumiço dos dois.

Integrantes da Polícia Federal e da Polícia Civil no Amazonas também disseram, reservadamente, que as investigações ampliaram o número de suspeitos.

Dessa forma, há outras pessoas investigadas além de Amarildo Oliveira, o Pelado, preso em Atalaia do Norte (AM) por possível participação no desaparecimento. A prisão decretada pela Justiça do Amazonas é temporária, de até 30 dias. A família de Pelado diz que ele é inocente.

As autoridades não forneceram os nomes de quem são os novos suspeitos. A PF e a Polícia Civil vêm conduzindo as investigações, que correm sob sigilo.
Pereira e Phillips desapareceram em 5 de junho, durante retorno a Atalaia pelo rio Itaquaí e após passarem por comunidades ribeirinhas. Eles faziam um trabalho de campo na região do Vale do Javari, fora da terra indígena de mesmo nome.

Na Polícia Civil, o entendimento é que a localização dos pertences de Pereira e Phillips, amarrados num igapó -área de mata inundada por água, à margem do rio-, reforça a hipótese de que houve um crime. A motivação mais provável, dizem investigadores, é o constante conflito entre pescadores ilegais e lideranças que atuam em defesa do território indígena.

Policiais também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.

Se for confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.
Pelado mora na comunidade ribeirinha São Gabriel. Os pertences de Pereira e Phillips foram encontrados num ponto da margem do Itaquaí próximo da comunidade.

A área está isolada desde sábado (11), depois que um indígena mayoruna, integrante de um grupo de buscadores indígenas, identificou alterações na vegetação da margem do rio, como se uma embarcação tivesse adentrado pela mata de forma abrupta.

No domingo (12), bombeiros mergulhadores encontraram uma mochila amarrada a uma árvore submersa. A forma como os objetos estavam presos à vegetação -disseram bombeiros no mesmo dia- é um indicativo de que houve intenção de ocultamento.

Também foram achados roupas, calçados e um documento pessoal de Pereira. A mochila era de Phillips, segundo a PF.

O material foi levado para perícia em Tabatinga, cidade na região da tríplice fronteira.

Quando confirmou a descobertas dos pertences de Pereira e Phillips, a PF informou que as buscas ocorrem "especialmente na área onde foi encontrada uma outra embarcação", aparentemente de propriedade de Pelado

Oito dias após o desaparecimento, esses eram os elementos de prova mais evidentes. As buscas foram retomadas nesta segunda-feira (13), mas não houve novas descobertas, segundo a PF.

A região do desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena.

Há relatos de tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por parte de pescadores ilegais. O cenário de conflitos levou a um reforço da vigilância empreendida pelos próprios indígenas, a partir de uma iniciativa da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

Pereira é servidor licenciado da Funai e prestava serviço à Univaja. Ele atuava como um fomentador da vigilância indígena.

Investigadores consideram que os resultados de três perícias serão decisivos para a elucidação do caso.

A mais importante, na visão deles, é a comparação do sangue colhido na canoa de Pelado com amostras de DNA das famílias de Pereira e Phillips.

Se o sangue não for de nenhum dos dois, a investigação pode ser arrastar mais, segundo investigadores ouvidos.

Também está pendente de perícia um "material orgânico aparentemente humano" recolhido no Itaquaí e os objetos pessoais do indigenista e do jornalista retirados do igapó.

Os próprios investigadores não sabem quanto tempo isso pode levar.

Nesta segunda, no mesmo instante em que policiais federais saíam de Atalaia do Norte para mais um dia de busca no rio Itaquaí, indígenas fizeram uma manifestação contra o governo Jair Bolsonaro (PL), contra as invasões à terra indígena e em defesa do trabalho feito por Pereira e Phillips.

Cerca de 200 indígenas participaram do protesto na cidade.

"Bruno lutou pelo Vale do Javari. Agora o Vale do Javari luta por Bruno, Dom e Maxciel", dizia uma das principais faixas da manifestação. Maxciel dos Santos era funcionário da Funai e foi executado na região em 2019. A suspeita é de que a morte teve relação com a atuação do funcionário contra invasões à terra indígena.

"Querem acabar com nossos pirarucus e tracajás, e Bruno nos defendia", disse a cacique Sandra Mayouruna, em sua língua, no palco na praça, ponto final da manifestação. "Bolsonaro tem raiva dos povos indígenas, e ele deveria ser presidente de todos os brasileiros."

O último destino visitado pelos dois antes do desaparecimento foi a comunidade de São Rafael, vizinha de São Gabriel. Pereira queria se encontrar com o pescador Manoel Sabino da Costa, o Churrasco, tio de Pelado. Ele é o líder da comunidade, e a intenção de Pereira era discutir formas de manejo sustentável do pirarucu, segundo Churrasco afirmou à Folha.

O pescador foi ouvido como testemunha pela PF, pela Polícia Civil e pela PM. Pereira deixou um bilhete para que Churrasco ligasse quando estivesse em Atalaia do Norte. O indigenista nunca chegou à cidade.


Fonte: Folhapress (Vinicius Sassine e Pedro Ladeira)

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