O Supremo Tribunal Federal retoma
nesta terça-feira (10), às 9h, os interrogatórios dos réus do núcleo principal
da trama golpista. O primeiro a ser ouvido neste segundo dia de depoimentos
será o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.
Da lista de 8 réus, ele será o
terceiro a prestar esclarecimentos ao relator Alexandre de Moraes e ao
procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Nessa segunda-feira, o delator Mauro
Cid confirmou que numa reunião em dezembro de 2022 o almirante colocou as
tropas à disposição do então presidente Jair Bolsonaro para executar as ordens
emitidas na “minuta do golpe”.
Alexandre
de Moraes: 'Qual foi a reação que o general Freire
Gomes narrou ao senhor e o senhor narrou à Polícia Federal em relação ao
almirante Garnier?'
Mauro
Cid: 'É que o general Freire Gomes tinha
ficado muito chateado, porque o almirante tinha colocado as tropas, a Marinha à
disposição do presidente, mas que ele só poderia fazer alguma coisa com o apoio
do Exército. O general Freire Gomes ficou muito chateado de ter transferido a
responsabilidade para ele nesse sentido'.
Alexandre
de Moraes: 'O réu Almir Garnier, então comandante
da Marinha, tinha colocado as forças, as tropas da Marinha à disposição do
então presidente, para o quê?'
Mauro
Cid: 'Para que se fosse assinado o decreto,
esse decreto que estava sendo apresentado, para tomar as iniciativas ou o que
previa naquele decreto'.
Pela primeira vez desde que fez a
delação premiada, Mauro Cid esteve junto com os outros réus e chegou a apertar a
mão de Jair Bolsonaro antes do início do interrogatório. Durante o depoimento,
o tenente-coronel confirmou que o ex-presidente leu e fez alterações na minuta
golpista:
Alexandre
de Moraes: 'O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu
e leu esse documento?'.
Mauro
Cid: 'Sim, senhor, recebeu e leu'.
Alexandre
de Moraes: 'Ele fez algumas alterações no
documento?'.
Mauro
Cid: 'Sim, senhor, ele de certa forma
enxugou o documento. Ele enxugou o documento, basicamente retirando as
autoridades das prisões. Somente o senhor ficaria como preso, o resto não'.
Diante de Bolsonaro, o
tenente-coronel Mauro Cid também confirmou que o objetivo do ex-presidente era
provar a fraude nas urnas para levar os comandantes das Forças Armadas a
aderirem ao golpe.
O ex-ajudante de ordens de Jair
Bolsonaro implicou o general Braga Netto no plano para matar autoridades. Mauro
Cid reafirmou que recebeu do ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro dinheiro
numa caixa de vinho para entregar ao major Rafael de Oliveira, que faz parte
dos "kids pretos" do Exército.
Segundo a Polícia Federal, o montante
seria usado para financiar a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha o
objetivo de matar o presidente Lula e outras autoridades.
Mauro Cid explicou ao ministro
Alexandre de Moraes por que só revelou o fato no terceiro depoimento à Polícia
Federal, depois de ser advertido de que poderia ser preso e perder os
benefícios da delação premiada:
Mauro
Cid: 'Na verdade, eu não falei naquele dia
na Polícia Federal porque tinha sido logo o dia da prisão, então eu fiquei
muito abalado ali na hora. Então, eu realmente não consegui reagir e botar as
ideias no lugar para entender o que estava acontecendo, porque eu tinha uma
ideia pré-concebida do que estava acontecendo e aí tudo mudou. Por mais que eu
não soubesse, aquilo foi um choque muito grande, pessoal preso, amigos meus, e
foi no mesmo dia, então aquilo me abalou um pouco. Então, depois, quando fui
falar com o senhor, a gente já estava, mesmo antes das advertências todas do
senhor, meus advogados já tinham conversado comigo, a gente conseguiu entender
e realmente botar no papel o que poderia contribuir para a investigação nesse
fato'.
Alexandre
de Moraes: 'Então, o senhor reitera que essa
versão, que agora o senhor está repetindo, da participação do general Braga
Netto entregando o dinheiro para que o senhor entregasse, essa é a versão
verdadeira'.
Mauro
Cid: Sim, senhor.
No intervalo do interrogatório, o
ex-presidente Jair Bolsonaro tentou desqualificar o depoimento de Mauro Cid e
disse que não vê motivo para uma eventual prisão no caso de ser condenado.
O segundo a depor nessa segunda foi o
deputado federal Alexandre Ramagem, que teria usado a Abin para espionar
adversários de Bolsonaro. Segundo a Procuradoria-Geral da República, ele
prestou auxílio direto a Bolsonaro para deflagrar o plano criminoso, fornecendo
material com informações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Alexandre Ramagem confirmou que foi o
autor de um arquivo para desacreditar o sistema eleitoral, mas negou que tenha
encaminhado o material para o então presidente Jair Bolsonaro.
Do núcleo crucial da trama golpista,
o Supremo ainda vai interrogar seis réus entre esta terça e quarta-feira.
Além do ex-comandante da Marinha,
Almir Garnier, serão ouvidos, em ordem alfabética: o ex-ministro da Justiça,
Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto
Heleno; o ex-presidente Jair Bolsonaro; o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio
Nogueira; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.
Fonte CBN
