Os evangélicos são 26,9% da população do país. Isso significa que um em
cada quatro brasileiros segue essa religião. O dado foi revelado pelo Censo
2022, do IBGE. O índice representa um crescimento de 5,2 pontos percentuais em
relação ao último levantamento, de 2010. Desde 1970, quando apenas 5,2% dos
brasileiros seguiam a religião evangélica, o aumento foi de 21,7 pontos
percentuais.
Apesar de manter o crescimento, o Censo 2022 apontou que a alta no
número de evangélicos desacelerou em relação ao último levantamento. Por outro
lado, o número de católicos, que vem caindo bruscamente desde a década de 80,
teve uma redução mais tímida, dessa vez. Para o filósofo Andrei Martins, a
desaceleração no aumento de fiéis da Igreja evangélica pode ter relação com o
Papa Francisco, que mostrou uma abertura da Igreja Católica.
O que a gente percebe, pelo último
papado, é que de fato foi um papado com uma abertura muito grande da Igreja.
Então veja, o Papa Francisco foi o primeiro papa a usar a palavra gay, então a
mensagem do papa foi uma mensagem de acolhida. Então com isso certamente houve
um aumento da quantidade de católicos, então isso faz um efeito e eu acho que é
um efeito que vai continuar por um tempo e eu chamaria esse efeito que é o
efeito Francisco."
A pesquisa relevou que 56,7% da população são fiéis à Igreja Católica.
Em 2010, essa parcela era de 65%. Em 1970, quase 90% dos brasileiros era
formada por católicos.
O senso de comunidade e a criação de vínculos têm atraído fiéis para a
Igreja Evangélica. Foi o que aconteceu com a aposentada Maria Regina Cordeiro,
que estava afastada da religião e se sentiu mais acolhida ao se converter.
'Hoje a igreja católica, você vai à
missa, acabou, acabou e foi embora. E aí, a Igreja Evangélica hoje, ela é o
tempo todo de porta aberta, é curso, tem um acolhimento diferente. O Deus é um
só, o Deus é um só, não importa qual a religião. Mas você tem um, como é que eu
vou dizer, um acompanhamento. Eu fiz uma decisão certa na minha vida, no
momento certo, na hora certa.'
Para a analista responsável pela pesquisa, Maria Goreth Santos, a
mudança de comportamento dos evangélicos, com posturas menos radicais, fez com
que a religião atraísse mais fiéis.
'A flexibilização também,
principalmente de comportamentos e valores dos evangélicos, faz com que atraia
mais fiéis, né? Ou seja, tinha valores morais éticos muito acirrados, que
faziam com que as pessoas não se identificassem tanto, até mesmo pela vergonha
de ser evangélico e ter tantas limitações, a ideia de não poder se identificar com
as coisas do mundo, né? Isso tem mudado bastante, principalmente com a
influência dos evangélicos pentecostais, neopentecostais, que trazem essa
perspectiva da teologia da prosperidade, que não há nenhum problema em alcançar
a prosperidade.'
Os evangélicos pentecostais geralmente são mais conservadores em
questões sociais e políticas, enquanto os neopentecostais são mais flexíveis e
modernos, buscando se adaptar a diferentes contextos.
Assim como a Maria Regina, a professora Paola Figueiredo decidiu mudar
para a religião evangélica em busca de acolhimento. Para ela, a experiência do
culto fez toda a diferença.
'A Igreja Evangélica é bem
acolhedora, dá uma expressão emocional maior, a vivência de fé, uma entrega
maior de fé. Uma das coisas que me chamou mais atenção, que mais me levou para
a Igreja Evangélica, foi a cultura deles, os louvores, os cânticos, os cultos
tocantes, os eventos sociais, um censo, assim, de pertencimento.'
Apesar da queda no número de católicos e o crescimento de evangélicos, a
população que se declara católica ainda é maior que o dobro dos que se dizem
evangélicos. Para a analista do IBGE Maria Goreth, o catolicismo ainda é
atraente para quem prefere rituais mais tradicionais.
'Você tem na sociedade uma
flexibilização dos valores ético-morais que acaba trazendo um pouco de angústia
e de ansiedade. Segundo as pesquisas, um retorno a uma coisa mais sólida, como
uma religião mais histórica, com rituais mais consagrados, aquele ritual que as
igrejas evangélicas, principalmente as neopentecostais, não têm muito. Você faz
com que essas pessoas queiram esse ritual, essa liturgia, esse processo todo,
litúrgico que tem dentro de igrejas mais conservadoras.'
Os dados também indicam uma pequena queda na religião espírita (0,3 p.p)
e um aumento nas religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, que
saíram de 0,3% em 2010, para 1%, em 2022. Já o contingente que se declarou sem
religião chegou a 9,3%. Em 2010, o número correspondia a 7,9% dos declarantes.
Em todas as regiões, os católicos são maioria. No Nordeste e no Sul, o
catolicismo corresponde a dois terços da população. Já os evangélicos têm uma
maior presença no Norte e no Centro-Oeste. A maior proporção de espíritas está
no Sudeste.
Em 2022, o catolicismo predominou em todas as categorias de cor ou raça.
Das pessoas que se declararam brancas, 60% se identificavam como católicas e
23,5% se identificavam como evangélicas. Já entre os pretos, a religião
católica foi a escolha de 49% e a evangélica, de 30%.
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