Esquema de empresas de fachada: entenda como grupo lavava milhões em Teresina

Esquema de empresas de fachada: entenda como grupo lavava milhões em Teresina

leandro santos
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 Foto: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Uma ação conjunta deflagrada nesta quarta-feira (3) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Maranhão, com apoio dos Ministérios Públicos do Piauí e da Paraíba, resultou na prisão de quatro pessoas em Teresina, no cumprimento de 16 mandados de busca no Piauí e na ordem de bloqueio judicial que pode chegar a R$ 197 milhões em bens. Entre os presos está um empresário, que já tinha sido preso anteriormente em operação do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) por lavagem de dinheiro para uma facção criminosa. 

Foram interditadas três empresas suspeitas de funcionarem como fachada para lavagem de dinheiro:

  • uma distribuidora farmacêutica, localizada na Avenida Valter Alencar, na zona Sul de Teresina;
  • uma revendedora de veículos na Avenida Barão de Gurguéia;
  • uma loja de móveis.

Segundo o promotor de Justiça Francisco Fernando de Moraes, a operação é a terceira fase de investigações iniciadas em 2021 contra uma organização criminosa com atuação interestadual.

“As diligências de hoje atingiram uma ramificação bastante significativa, que atuava fortemente na lavagem de dinheiro, comércio ilegal de veículos, receptação de cargas roubadas e até ouro de origem ilícita”, explicou.

O promotor destacou que a ofensiva é resultado de uma articulação interestadual.

 “Foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e três interdições de empresas no Maranhão, Piauí e Paraíba. É um desdobramento das fases anteriores da operação Barão Vermelho”, acrescentou.

Empresário preso e esquema de lavagem

O coordenador do GAECO do Maranhão, Rafael Bruno Aragão, explicou que a deflagração desta etapa só foi possível após uma decisão do Tribunal de Justiça reformar medida anterior.

 “Em 2023, parte dos pedidos havia sido indeferida. O recurso levou tempo, dada a complexidade do caso, mas neste ano tivemos provimento favorável e hoje conseguimos executar os quatro mandados de prisão preventiva, além das buscas e apreensões”, relatou.

Entre os presos está o empresário Josimar Barbosa, que tem uma revendedora de veículos na Avenida Barão de Gurguéia, que já havia sido alvo de investigações em operações anteriores, e que em novembro de 2024 tinha sido preso em operação do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) por lavagem de dinheiro para uma facção criminosa. Na ocasião, a polícia afirmou que o empresário usava os nomes dos filhos para a prática dos crimes. Ele possui uma loja de veículos localizada na Avenida Barão de Gurguéia.

Segundo o Ministério Público, ele utilizava as empresas como “contas de passagem” para ocultar valores de origem ilícita. As investigações apontam que parte das empresas possuía proprietários de fachada, enquanto o controle de fato ficava com integrantes da organização criminosa.

O promotor Francisco Fernando reforçou que esse tipo de prática foi identificado em diferentes ramos.

 “As empresas misturavam recursos de pessoas físicas e jurídicas, de forma a ocultar a origem ilegal dos valores recebidos, criando uma aparência de legalidade”, destacou.

A promotora Lenara Porto, coordenadora do GAECO no Piauí, afirmou que as diligências apenas confirmaram o que já vinha sendo levantado pelas investigações.

 “Não houve surpresa, houve uma ratificação dos elementos prévios. As empresas investigadas apresentavam um grande volume de bens e movimentações financeiras que já estavam sob análise”, explicou.

Ela detalhou ainda como funcionava a cadeia de lavagem de dinheiro.

 “Empresas eram abertas em nome de laranjas, que não tinham relação com o negócio. O dinheiro proveniente de crimes como tráfico, receptação e agiotagem era injetado nessas pessoas jurídicas, que se apresentavam ao mercado como empreendimentos regulares, criando uma concorrência absolutamente desleal”, afirmou.

Segundo o coordenador do GAECO do Maranhão, Rafael Bruno Aragão, além das prisões, o bloqueio financeiro foi determinante.

 “O montante de bloqueio chegou a R$ 197 milhões em bens móveis e imóveis. A ordem judicial também alcança veículos, joias, relógios, embarcações e até imóveis de alto valor, para assegurar eventual ressarcimento pelos crimes praticados”, disse.

Próximos passos

O coordenador do GAECO Maranhão, Rafael Aragão, afirmou que a investigação ainda deve resultar em novas responsabilizações.

 “O material apreendido será analisado, com extração de dados e elaboração de laudos. A partir disso, serão ajuizadas as ações penais cabíveis, e não está descartada a possibilidade de novas prisões e interdições”, destacou.

 Lenara Porto reforçou que a apuração é contínua e pode revelar outros ramos do esquema:

 “A investigação será robustecida e, dependendo do que se encontrar, é possível que surjam novas ramificações e outros alvos sejam alcançados”, concluiu.

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